segunda-feira, 28 maio 2018 16:59

Chris Roebuck: “Os colaboradores são os primeiros clientes de uma empresa”

Liderar pelo exemplo. Para o economista britânico Chris Roebuck, esta não é uma frase feita, é uma assunção incontornável no sucesso das empresas. Diz mesmo que um líder capaz de inspirar as pessoas é um líder que gera receitas para a empresa: dá como exemplo o banco UBS, de que foi Global Head of Leardership, multiplicou os lucros graças a esse enfoque transformacional. E sublinha que o retalho enfrenta desafios específicos, pois colaboradores desmotivados potenciam consumidores insatisfeitos. Mensagens que partilhou no APED Retail Summit.

 

Store | O que define um líder no ecossistema atual?

Chris Roebuck | É, essencialmente, o mesmo de outras épocas. Eliminando a complexidade e os tópicos mais recentes, que parecem distrair as pessoas, liderar é simplesmente ser capaz de obter o melhor das pessoas e depois dirigir esse melhor para o que gera sucesso. Pode ser mais difícil, dada a pressão do mundo moderno digital, mas o que define o que um líder tem de fazer agora é o mesmo do passado e será o mesmo do futuro. No mundo do retalho, a interação positiva com os consumidores, quer racional, quer emocional, significa que os líderes têm de ser capazes de inspirar os colaboradores a prestarem o melhor serviço ao cliente. E, para isso, é preciso que os líderes sejam capazes de construir essas interações positivas com as suas equipas. A expressão “os colaboradores são os primeiros clientes” é usada, com frequência, de uma forma casual, quando, de facto, contém uma verdade fundamental das organizações de sucesso.

Que ferramentas são mais estruturantes no caminho para o sucesso? Competências técnicas e de gestão ou as chamadas soft skills?

Para alcançar o sucesso, é necessária uma combinação de fatores – os indivíduos devem possuir competências técnicas para a função, além de capacidades de gestão para, efetivamente, implementarem a técnica e para conseguirem que o trabalho seja feito pelos colaboradores. É necessária uma base sólida de gestão do tempo, priorização, delegação, comunicação e reporte. Juntas, estas competências proporcionam ao líder controlo sobre os eventos. O que, por sua vez, lhe permite ter tempo para se focar nas pessoas, criando um ambiente em que essas pessoas tenham vontade de dar o seu melhor.

Entende, então, que liderar pelo exemplo é mais válido do que nunca?

Liderar pelo exemplo é, e será sempre, o único caminho para o sucesso real e sustentável. As pessoas podem ser inspiradas ou intimidadas para trabalharem. A diferença é que a intimidação apenas funciona a curto prazo e consegue, provavelmente, 30% menos esforço do que a inspiração. O exemplo do líder é algo que as pessoas, consciente e subconscientemente, copiam, pois acreditam que vai ser benéfico. As pessoas replicam as ações do líder, não as suas palavras. Se o líder atua de uma forma que é contrária às suas próprias palavras, os colaboradores deixam de acreditar nele. E isto vai destruir qualquer desejo de darem o seu melhor. É por isso que dar o exemplo é tão importante. Constrói uma cultura de “nós, não eu”, em que todos trabalham para o bem coletivo.

E os líderes reconhecem a importância de transformar os negócios através das pessoas e com as pessoas?

A maioria dos líderes, de facto, não percebe a importância de otimizar o desempenho individual, da equipa e da organização e envereda por uma abordagem focada nos números financeiros. Esta atitude vai contra a evidência, mas, provavelmente, também contra a sua própria experiência. Quando questionados sobre os líderes que os inspiraram mais, a maioria dos líderes atuais responderá que foram aqueles que se preocuparam em motivá-los, mais do que em dar-lhes ordens. É claro que o desempenho financeiro é crítico, mas se o foco for colocado nas pessoas faz-se mais dinheiro.

Que desafios enfrentam os líderes neste mundo tecnológico?

Mais do que a tecnologia, o desafio vem do ritmo da mudança e da crescente complexidade das organizações modernas. Contudo, o que sustenta o sucesso mantém-se – bons conhecimentos técnicos, competências de gestão de tarefas e capacidade para inspirar as pessoas. O risco que os líderes enfrentam é o facto de a complexidade e o ritmo da mudança os distraírem, levando-os a pensar que aquelas bases já não são necessárias e que apenas precisa dominar as novas competências técnicas e os novos conhecimentos. Este é um erro frequente e perigoso. Os bons líderes precisam tanto das novas tecnologias e da capacidade de lidar com a mudança como de bases sólidas.

O retalho enfrenta desafios específicos?

Sim. No retalho, o efeito em cascata é mais rápido, isto é, uma liderança ineficaz reflete-se em colaboradores descontentes, o que, por sua vez, se repercute negativamente nos clientes, com impacto nas receitas. Noutros setores, como o da construção, este efeito pode demorar anos e, mesmo quando surgem problemas, é muito difícil atribui-los. Além disso, as expectativas dos consumidores sobre os serviços e produtos crescem no retalho mais rapidamente do que noutros setores, o que obriga a uma maior atenção e agilidade – atenção para captar as mudanças nas necessidades dos consumidores o mais cedo possível e agilidade para levar a mensagem ao topo e para que toda a organização responda com celeridade.

Fonte: Store

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